segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DIA DO MÉDICO

Lembro-me, estávamos em pleno verão, Janeiro de 1997. Acordei sentindo uma dorzinha em minha perna direita.
Aquela dor sem explicação que me incomodava bastante!
Resolvi procurar um doutor... Fui divagando pelo caminho...
Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo...
Meu doutor, que curava a minha dor!
Não apenas a do meu corpo, mas a da minha alma...
Que me transmitia paz e calma...
Chegando à recepção do consultório, fui atendido com uma pergunta!
"Qual o seu plano?
O meu plano Ahhh! O meu plano é viver mais e feliz!
É dar sorrisos, cantar para meus amigos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora!
Mas, a resposta teria que ser outra!
O "meu plano de saúde"...
Apresentei o documento do Ipasgo, já meio usado tanto quanto o meu bolso... E aguardei.
Quando fui chamado, corri apressado...
Ia ser atendido pelo doutor, ele que curava qualquer tipo de dor!
Entrei e o olhei...
Me surpreendi...
Rosto trancado, triste e cansado.
"Será que ele estava adoentado?
É, quem sabe, talvez gripado!"
Não tinha um semblante alegre, provavelmente devido a febre...
Dei um sorriso meio de lado e um bom dia!
Olhei o ambiente bem decorado.
Sobre a mesa à sua frente um computador e no seu semblante a sua dor...
O que fizeram com o doutor?
Quando ouvi a sua voz de repente:
"O que o senhor sente?"
Como eu gostaria de saber o que ele estava sentindo...
Parecia mais doente do que eu o paciente...
" Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na perna direita e no joelho também “e esperei a sua reação.
Vai me examinar, escutar a minha voz e ouvir o meu coração
Para a minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse:
-“Isto não é nada não”
- "Peça autorização desses exames para conseguir a realização..."
Quando li quase morri...
"Tomografia computadorizada",
"Ressonância magnética"
e "Cintilografia Óssea"!
Ai meu Deus! Que agonia!!!
Eu só conhecia uma tal de "abreugrafia"...
Só sabia o que era "ressonar" (dormir), de "magnético" eu conhecia um olhar... e "cintilar" só o das estrelas!
Estaria eu a beira da morte?
De ir para o céu?
Iria morrer assim ao léu?
Naquele instante timidamente pensei em falar.
Não terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio?
O que fazer com essa sensação de vazio?
Me observe doutor!
O tal "Pai da Medicina", o grego Hipócrates acreditava que,
"A ARTE DA MEDICINA ESTÁ EM OBSERVAR".
Olhe pra mim...
É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado!
Médico não é sacerdote...
Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano...
Mas, por favor, me olhe!
Ouça a minha história!
Preciso que o senhor me escute!
Me examine!
Estou sentindo falta de dizer até "aquele 33"!
Não me abandone assim de uma vez!
Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!
Alimente a minha mente e o meu coração...
Me dê ao menos uma explicação!
O senhor não se informou se eu ando descalço...
Ando sim!.. Adoro andar descalço!
Gosto de pisar na areia e seguir em frente deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida. Estarei errado?
Ou estarei com o verme do amarelão?
Existirá umas gotinhas de solução?
Será que já existe vacina contra o tédio?
Ou não terá remédio?
Que falta o senhor me faz, meu antigo doutor!
Cadê o scoot, aquele da emulsão?
Que tinha um gosto horrível, mas me deixava forte que nem um "Sansão"!
E o elixir? Paregórico e categórico
E o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras?
Será que pensei asneira?
Ahhh! Meu querido e adoentado doutor!
Sinto saudade... Dos seus ouvidos para escutar as batidas do meu triste coração...
Das suas mãos para me examinar... Do seu olhar compreensivo e amigo...
Do seu pensar.
Do seu sorriso que aliviava a minha dor...
Que me dava forças para lutar contra a doença...
E que estimulava a minha saúde e a minha crença...
Sairei daqui para um ataúde?
Preciso viver e ter saúde!
Preciso cantar, dar shows, fazer os outros mais felizes
Por favor, me ajude!
Ohhh! Meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador, uma desconfiança que minha dor fosse apenas manha,e o olhar vago e cansado do doutor!
Precisamos urgente dos nossos médicos amigos...
A medicina agoniza...
Ouço até os seus gemidos...
Por favor!
Tragam de volta o meu doutor!
Estamos todos doentes e sentindo dor!
Foi com todo esse desespero que fui encaminhado a uma verdadeira doutora, esta sim, não estava doente como eu, tinha vocação, fazia tudo por amor.
Mas pela ironia do destino, foi ela que se foi, e não eu, hoje ela cuida dos doentes no além, talvez Deus achou que lá ela fosse mais útil.
E eu sozinho, neste mundo, procurava por um ser humano que me desse uma
RECEITA DE CALOR
E UMA PRESCRIÇÃO DE “AMOR”!
Hoje, em plenos anos 2000, encontrei o Dr. Marcus Magnus, outro anjo vestido de branco.
Agora fico pensando, quanto aos pacientes terminais, sejam por câncer ou por outras enfermidades quaisquer, é muito curioso ver como se portam alguns.
De minha parte, eu sempre achei que o leito de morte, ou leito de vida, eu prefiro assim, trazia algo de bom para quem estava nele, que era a liberdade de poder, enfim, olhar só para trás.
A proximidade da morte nos livra de pensar no futuro, esse futuro que nos aprisiona. Podemos, concluir, antes do último adeus, que nossa passagem aqui não foi em vão, eu tive várias decepções, muitas alegrias, verdadeiros amigos.
VALEU A PENA!!!!
♥ Ronaldo Lírio ♥

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