O MEU ANIVERSÁRIO
Hoje é o meu aniversário e pensando nisso, suponho no que as pessoas dizem, ele está velho!!!....
Me analisei:
Sim, já estou velho. A cada ano me lembram disso. A cada dia eu mesmo me lembro também. Os cabelos mudaram de cor, meu corpo já não é o mesmo. O que me deixa a leve dúvida de que talvez eu tenha direito à vaga de idosos no shopping. Afinal sou um respeitável senhor de cabelos brancos.
Sinal de que não morri cedo!
Lucro absoluto.
Levei vários sustos pela vida afora. Achei, algumas vezes, que não fosse ver meus filhos, meus netos crescerem.
Dor pior de todas. Na angústia de quem acha que pode estar partindo, fiz declarações diárias. Plantei viagens, tirei fotos com a minha família, gravei vários discos e vídeos cantando. Risos e besteiras. Precisava ficar neles de alguma forma.
Agora percebo feliz: ainda estou por aqui. Alívio. Na mesma angústia dos que partem, ainda faço declarações diárias.
Digo que amo as pessoas, que amo minha família, afinal eu as amo mesmo, do meu jeito, brigando, enchendo o saco deles.
Percebi, com o tempo, que estamos todos em viagem e que a vida é um desenho sem borracha e não aceita retoques. Partimos a qualquer momento. Sem que se faça as malas.
É preciso que se semeie rápido o que se quer que floresça na memória de quem se ama. Amar se conjuga no presente.
Por enquanto, a velhice não me incomoda. Aliás, depois que passei dos setenta, acho todo mundo super novinho.
Ando assim. Quanto mais velho fico, mais novos os velhos me parecem.
Estar velho não é de todo ruim. Tenho gostado. Estou perto de quem amo. Acompanho a luta diária, os conflitos, as conquistas. Beijo, abraço, dou cheiro. Compartilho. Uma sorte que precisa ser aproveitada sem desperdícios.
Tenho a leve impressão de que se eu já tivesse ido, os acompanharia também de qualquer forma, lá do mundo espiritual. Abraçaria com asas, rezaria por proteção. Encheria o saco dos santos todos para darem uma ajudinha. O amor mantém a ligação viva. Mas talvez eles, aqui por baixo, nem percebessem. Então melhor mesmo é ir ficando por aqui. Fico feliz de estar vivo.
Já não sou tão rápido e até dirijo meu carro bem devagar, minha esposa briga comigo por isso. Mas pressa para que, né? Já conheço meus limites, os defeitos e as manias. Hoje rio deles, mais do que eles de mim. Erro com muito mais tranquilidade. Tenho paciência comigo.Enquanto houver ré e retorno, chego em qualquer lugar. Mesmo com o corpo pesado, a vida me cabe mais leve.
Aprendi que, quando portas se fecham, janelas se abrem. Eu não faço mais cerimônia. Entro por onde der. Já me permito arriscar, errar, assumir, refazer. Peço desculpas sem o menor pudor. Sou torto por natureza, mas agora já nem ligo mais. A idade me deixou à vontade para escolher o que fazer.
Para dizer um não sorridente aos que de mim tentam abusar. (Tive muita ajuda). Para perceber que podia dizer um monte de desaforos, mas nem quero mais. Prefiro calar e economizar energia. Para andar do jeito que quero. Sem ligar a mínima para o que vão pensar.
Sou menos muros e mais ponte. Sou menos âncora, mais vela. Navego de vento em popa. Coleciono felicidades. Já não busco o tosco ideal.
Me satisfazem as possibilidades.
Mais agradeço tudo que peço. Canto e as vezes até desafino. Visto o que me agrada, adoro roupas velhas, sapato velho. Minha moda sou eu. Se me faz feliz, faço. O que os outros vão pensar? Problema deles. Que se danem os outros!
Posso afirmar, sem medo, a idade é um upgrade. Estou me aperfeiçoando. Comecei fusquinha. Já estou Citroen, quando chegar a Ferrari, me aguardem.
Feliz aniversário para mim e Feliz Ano Novo pra vocês.
